quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Do toque ao Like - 10 anos de História


                Recomendo a leitura atenta desta publicação a todos aqueles que contam mais de 15 anos de idade. Não quero com isto dizer que os mais novos não possam ou não a devam fazer mas, para perceberem na íntegra o que para aqui tenciono escrever, precisam da ajudinha de alguém mais velho que sorria cada vez que ouvir falar em toques.

                 No tempo em que não havia mensagens à borla, chamadas ao preço da chuva, mama para ninguém, havia os toques. No saldo eles não mexiam, na bateria causavam estragos, nas emoções de quem os recebia levantavam um autêntico turbilhão. Receber um toque dos amigos conduzia ao pensamento: “Vai começar a brincadeira”, e começava. Eram horas numa guerra acesa até uma das partes se render. Mas bom mesmo era quando o telemóvel tocava porque “aquela pessoa” se lembrou de ti. Porque a idade era de histeria hormonal, o coração acelerava, o nervoso miudinho sussurrava e a mente desenhava histórias com um final mais feliz do que a da Cinderela.

                 Anos depois vejo o toque como uma técnica de engate de excelência da altura. Bastava um toque de manhã, um ao meio da tarde e, em casos mais difíceis, um ao final do dia para o coraçãozinho de quem os recebia se ir derretendo. Mas os tempos mudaram. Hoje já ninguém dá toques a ninguém (com excepção daqueles que não têm tarifários extraordinariamente fixes)e, felizmente, as mensagens "Olá, que fazes?" extinguiram-se. Hoje há o Facebook e o Like. Sim, porque o botão que promove a inércia mental também serve para acicatar conquistas. Por cada foto, publicação ou comentário recebes “likes” dos teus amigos. Porreiro, é sinal que em parte, ou em todo, eles partilham da mesma ideia ou dos mesmos gostos que tu. Porém, no meio desta enchente há sempre um intruso. Alguém, na maioria das vezes do sexo oposto, que “gosta” de tudo e de mais alguma coisa. Como não existem duas pessoas iguais e, por muito parecidos que sejam os interesses, em algum momento irá existir discórdia, isto leva-me a suspeitar e a acreditar em segundas intenções subjacentes ao clique. Depois de averiguar a situação, para não escrever nada empiricamente não testado, cheguei à conclusão que o processo é mais ou menos este: Gosto na foto – Gosto em duas ou mais publicações – Comentário numa publicação - Um “Olá, como estás?” através do chat – Uma troca de números de telemóvel - Um encontro marcado – e depois puxem pela imaginação e criem o resto. Tenho ainda a acrescentar que, cumprido na totalidade o percurso acima apresentado, o intruso desaparece. Mesmo que publiquem a vossa melhor foto, a música preferida do intruso, ou sei lá o quê que o intruso gosta muito, ele não mais volta a “Gostar” seja lá do que for. Parte para outro perfil.

                Não sei se com esta história toda o número de “Gostos” nas minhas publicações vai diminuir, seja como for espero consigo sobreviver com isso.
Andreia Moreira

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