Quando tinha oito anos e andava na terceira
classe, sonhava com um lanche entre amigas. Imaginava-o cá em casa. A mãe podia
fazer o seu bolo de laranja e tenho a certeza que a avó não se iria importar de
encher mais duas ou três canecas de chá de camomila. Horas de conversa sobre os
desenhos animados preferidos. Gargalhadas mil. De certeza que iria ser uma
tarde bem passada. Uma tarde para recordar. Uma tarde de partilha. Elas a
partilharem os seus gostos e eu a gostar. Mas o pai nunca deixou que este
lanche acontecesse.
Aos doze anos, sempre que caía a noite,
imaginava a minha primeira festa do pijama. Até já tinha escolhido a fatiota
para essa ocasião. Podia ser no meu quarto. Estava sempre arrumadinho, tal e
qual como a mãe exigia. Não iria haver problema. Quatro ou cinco amigas, horas
e horas numa batalha contra o sono, mexeriquices e malandrices. Tenho a certeza
que com elas iria conseguir falar dos charmosos lá da escola. Será que os
nossos gostos e opiniões eram parecidos? Nunca soube. O pai nunca me deixou ir
a uma festa do pijama.
Aos dezasseis anos ansiava pelas primeiras
saídas à noite. Vestir a saia mais curta, a camisola mais decotada e beber álcool.
Nunca soube como queima um shot. Como nunca lanchei com as minhas amigas nem
participei numa festa do pijama, elas nunca me convidaram para sair à noite.
Felizmente apareceu o Facebook. Agora convido
para amigos até aqueles que não me conhecem. Que mal tem? No Facebook o bolo de
laranja da mãe chega para todos. Gosto de tudo o que estes estranhos conhecidos
partilham. Que mal tem? Mesmo que na verdade não ache piada nenhuma ao que eles
ouvem ou pensam, eles nunca vão ver a minha cara de desagrado.
Hoje faço as maiores e melhores festas do
pijama. Fico acordada até altas horas da madrugada e, no Facebook, há sempre
alguém online. Ainda que não fale com ninguém, marco lá presença.
Bebedeiras? Nunca apanhei nenhuma. Mas sei o
que é ressacar depois de uma noite de “likes”, comentários e publicações.
Mark, para mim és um pai. Obrigada por me
teres ajudado a deixar de ser introvertida. Agora sou inconveniente mas adoro!"
M. em Confissões de uma desocupada
Capítulo "Uma eventual falta de personalidade".
Andreia Moreira
Como eu admiro este blog :D
ResponderExcluirObrigada. Muito charmoso. :)
ResponderExcluir