quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Carta aberta a Mark Zuckerberg

"Mark, talvez não seja exagerado dizer que mudaste a minha vida. Devo-te tanto por isso.

Quando tinha oito anos e andava na terceira classe, sonhava com um lanche entre amigas. Imaginava-o cá em casa. A mãe podia fazer o seu bolo de laranja e tenho a certeza que a avó não se iria importar de encher mais duas ou três canecas de chá de camomila. Horas de conversa sobre os desenhos animados preferidos. Gargalhadas mil. De certeza que iria ser uma tarde bem passada. Uma tarde para recordar. Uma tarde de partilha. Elas a partilharem os seus gostos e eu a gostar. Mas o pai nunca deixou que este lanche acontecesse.
Aos doze anos, sempre que caía a noite, imaginava a minha primeira festa do pijama. Até já tinha escolhido a fatiota para essa ocasião. Podia ser no meu quarto. Estava sempre arrumadinho, tal e qual como a mãe exigia. Não iria haver problema. Quatro ou cinco amigas, horas e horas numa batalha contra o sono, mexeriquices e malandrices. Tenho a certeza que com elas iria conseguir falar dos charmosos lá da escola. Será que os nossos gostos e opiniões eram parecidos? Nunca soube. O pai nunca me deixou ir a uma festa do pijama.
Aos dezasseis anos ansiava pelas primeiras saídas à noite. Vestir a saia mais curta, a camisola mais decotada e beber álcool. Nunca soube como queima um shot. Como nunca lanchei com as minhas amigas nem participei numa festa do pijama, elas nunca me convidaram para sair à noite.
Felizmente apareceu o Facebook. Agora convido para amigos até aqueles que não me conhecem. Que mal tem? No Facebook o bolo de laranja da mãe chega para todos. Gosto de tudo o que estes estranhos conhecidos partilham. Que mal tem? Mesmo que na verdade não ache piada nenhuma ao que eles ouvem ou pensam, eles nunca vão ver a minha cara de desagrado.
Hoje faço as maiores e melhores festas do pijama. Fico acordada até altas horas da madrugada e, no Facebook, há sempre alguém online. Ainda que não fale com ninguém, marco lá presença.
Bebedeiras? Nunca apanhei nenhuma. Mas sei o que é ressacar depois de uma noite de “likes”, comentários e publicações.
Mark, para mim és um pai. Obrigada por me teres ajudado a deixar de ser introvertida. Agora sou inconveniente mas adoro!"
M. em Confissões de uma desocupada 
 Capítulo "Uma eventual falta de personalidade".
Andreia Moreira

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