Acolher e
integrar ou ser humilhado para poder humilhar? O ano é novo mas a questão
mantém-se. Porém, se a dúvida permanece, uma certeza impõe-se: nenhum estudante
do ensino superior fica indiferente à praxe académica. Ritual de inserção para
uns, ritual fascista para outros. Existe ainda quem opte pela não tomada de
posição mas isto é, por si só, uma posição.
A praxe divide. A praxe desperta reações amor-ódio. A praxe já foi um ritual de
iniciação. Hoje há quem reconheça nela práticas de dominação, jogos rasteiros
de poder. Hoje a praxe é tudo menos uma tradição inocente.
Aos bebés da academia
“Liberdade? No primeiro
dia de aulas, logo à entrada da faculdade, disseram-me que eu podia ser a favor
da praxe ou anti praxe. Eu percebi que estava a ser abordada por praxistas,
eles estavam trajados. Quando é assim qual é a margem para ser anti praxe?
(...) Queria participar na vida académica e sabia que, se dissesse não
naquele momento, ia ser automaticamente excluída. Eu queria ser incluída.”
(S.
, 20 anos, Porto)
As palavras que
emergem deste discurso, igual a tantos outros, levam a que se questione o
carácter voluntário da participação na praxe. Talvez este seja meramente
teórico pois, na prática, o que podemos observar são estratégias persuasivas,
cuja eficácia contribui para o engrossar das massas de caloiros. O medo da
exclusão conduz à obediência e não falta quem saiba tirar proveito desta situação.
"No primeiro dia tive vontade de chorar mas sabia que se o fizesse ia ser pior, por isso mordia o lábio para segurar as lágrimas."
(F., 21 anos, Aveiro)
São assim
recebidos os “bebés da academia”. Julgava eu que a palavra receber se associava
a inclusão, a igualdade, ao reconhecimento do ser humano. Para quem veste de
negro, a mesma palavra liga-se a um campo semântico diferente: insultar,
humilhar, desnivelar poderes. Aclama-se o respeito hierárquico numa altura em
que todos já deveriam saber que não se respeita o sujeito x ou y pelo que este faz,
pensa, pela posição que ocupa ou pela idade que tem. Respeita-se o ser humano.
Por isso é ridículo tratar as pessoas com humilhação para que os que humilham
possam ser respeitados.
Andreia Moreira
Não acredito que quem não faça parte da Praxe seja imediatamente incluído no saco "Anti-Praxe". Repudio essa ideia, pelo extremismo que apresenta. Tenho pena que a opinião geral seja essa, tenho pena que a primeira abordagem de muitos praxistas provoque esse tipo de sentimento juntos dos novos alunos.
ResponderExcluirNunca agi, pelo menos em consciência, de forma a provocar este sentimento. E tenho consciência de que sempre fui o mais correcto possível em todas as situações, porque não o ser nunca foi uma hipótese. Acredito antes de tudo no respeito e na aceitação. Recíprocos.
Tenho pena que se mordam lábios para segurar lágrimas que nunca deveriam estar sequer equacionadas.
Há pessoas e pessoas, em todo o lado, e, infelizmente, na maior parte dos casos, são as pessoas que moldam a Praxe, e não a Praxe a moldar as pessoas.