Podemos ficar
amigos – Este deve ser o cliché mais utilizado para pôr o ponto final num
relacionamento, porém, se o cérebro estivesse a trabalhar no momento em que
somos abordados desta maneira, e se estas três palavras se combinassem numa
interrogação, a resposta seria simples e óbvia: Não, não podemos.
Talvez eu não
seja a pessoa mais indicada para escrever sobre este assunto mas tenho uma
opinião acerca dele, formada (quiçá) à custa dos filmes que vi, das revistas
que li na adolescência (e hoje me envergonho de o ter feito), do discurso que
ouvi das amigas mais velhas e experientes. Talvez estas não sejam as fontes de
conhecimento mais credíveis e infalíveis mas levaram-me a acreditar que existem
duas maneiras de uma relação acabar: a mal ou a disfarçadamente mal.
Terminam a mal as relações que, em vez de duas, contam três “almas-gêmeas”. Uma troca de insultos, dois pares de estalos, um “Desaparece. Nunca mais te quero ver.” e a situação está resolvida. Prático. Porém, para se ser prático, é preciso que a sensibilidade falte, e esta capacidade de sentir sobra nas relações que terminam disfarçadamente mal, ou pelo menos é o que parece quando ainda se confia na validade dos sentimentos e na integridade da conduta de quem temos pela frente.
Terminam a mal as relações que, em vez de duas, contam três “almas-gêmeas”. Uma troca de insultos, dois pares de estalos, um “Desaparece. Nunca mais te quero ver.” e a situação está resolvida. Prático. Porém, para se ser prático, é preciso que a sensibilidade falte, e esta capacidade de sentir sobra nas relações que terminam disfarçadamente mal, ou pelo menos é o que parece quando ainda se confia na validade dos sentimentos e na integridade da conduta de quem temos pela frente.
A indecisão, a insegurança, o desgaste, ou simplesmente a ausência
de paixão, levam a que, muito delicadamente, o terminante se dirija ao terminado,
com o discurso ensaiado, e declame, qual ator de Hollywood, algo muito
parecido com: “Eu não estou pronto/a para um relacionamento. Podemos ficar
amigos. Eu gosto de ti”. Decompondo (e tornando mais verdadeiro): Eu não estou
pronto/a para um relacionamento...contigo – esta é a palavra que falta sempre e
que torna a expressão tão desonesta, contudo poupa justificações ao terminante
que, numa tentativa de consolar o terminado, lhe oferece a sua amizade como
quem oferece um brinquedo a uma criança só porque não a quer ver chorar ou
fazer birra. Como não há duas sem três, segue-se o “Eu gosto de ti” que, das
três mentiras, consegue ser a pior de todas, ou não fosse ela a culpada por
deixar na cabeça do terminado uma confusão imensa pois no coração do mesmo fez
sobrar uma réstia de esperança, a esperança de que um dia as coisas ainda podem
voltar a ser como eram. Esta fé aumenta quando, como se nada tivesse
acontecido, o terminante convida o terminado para sair. Mas ex-namorados, isso
mesmo, ex-namorados, não saem juntos sozinhos, não conversam como conversavam,
não riem como riam, não se amam como se amavam. Terminante, é muito difícil ter
o melhor de dois mundos.
Adorava
conseguir terminar esta publicação sem trazer para ela mais nenhum cliché, mas
este tem que ser para aqui trazido porque é a mais verdadeira de todas as
verdades: não há nada que o tempo não cure. Ele repara, organiza, clarifica.
Ele é o melhor psicólogo, psiquiatra, amigo ou conselheiro para aquele que é o
mal mais sobrevalorizado pela sociedade.
P.S.: Um dia o terminado
fica curado. Um dia o terminante assume as suas promessas. Se, e só se esse dia chegar,
a amizade entre ex-namorados começa.
Andreia Moreira
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