segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Podemos ficar amigos

Podemos ficar amigos – Este deve ser o cliché mais utilizado para pôr o ponto final num relacionamento, porém, se o cérebro estivesse a trabalhar no momento em que somos abordados desta maneira, e se estas três palavras se combinassem numa interrogação, a resposta seria simples e óbvia: Não, não podemos.
 
Talvez eu não seja a pessoa mais indicada para escrever sobre este assunto mas tenho uma opinião acerca dele, formada (quiçá) à custa dos filmes que vi, das revistas que li na adolescência (e hoje me envergonho de o ter feito), do discurso que ouvi das amigas mais velhas e experientes. Talvez estas não sejam as fontes de conhecimento mais credíveis e infalíveis mas levaram-me a acreditar que existem duas maneiras de uma relação acabar: a mal ou a disfarçadamente mal.

Terminam a mal as relações que, em vez de duas, contam três “almas-gêmeas”. Uma troca de insultos, dois pares de estalos, um “Desaparece. Nunca mais te quero ver.” e a situação está resolvida. Prático. Porém, para se ser prático, é preciso que a sensibilidade falte, e esta capacidade de sentir sobra nas relações que terminam disfarçadamente mal, ou pelo menos é o que parece quando ainda se confia na validade dos sentimentos e na integridade da conduta de quem temos pela frente.
A indecisão, a insegurança, o desgaste, ou simplesmente a ausência de paixão, levam a que, muito delicadamente, o terminante se dirija ao terminado, com o discurso ensaiado, e declame, qual ator de Hollywood, algo muito parecido com: “Eu não estou pronto/a para um relacionamento. Podemos ficar amigos. Eu gosto de ti”. Decompondo (e tornando mais verdadeiro): Eu não estou pronto/a para um relacionamento...contigo – esta é a palavra que falta sempre e que torna a expressão tão desonesta, contudo poupa justificações ao terminante que, numa tentativa de consolar o terminado, lhe oferece a sua amizade como quem oferece um brinquedo a uma criança só porque não a quer ver chorar ou fazer birra. Como não há duas sem três, segue-se o “Eu gosto de ti” que, das três mentiras, consegue ser a pior de todas, ou não fosse ela a culpada por deixar na cabeça do terminado uma confusão imensa pois no coração do mesmo fez sobrar uma réstia de esperança, a esperança de que um dia as coisas ainda podem voltar a ser como eram. Esta fé aumenta quando, como se nada tivesse acontecido, o terminante convida o terminado para sair. Mas ex-namorados, isso mesmo, ex-namorados, não saem juntos sozinhos, não conversam como conversavam, não riem como riam, não se amam como se amavam. Terminante, é muito difícil ter o melhor de dois mundos.
Adorava conseguir terminar esta publicação sem trazer para ela mais nenhum cliché, mas este tem que ser para aqui trazido porque é a mais verdadeira de todas as verdades: não há nada que o tempo não cure. Ele repara, organiza, clarifica. Ele é o melhor psicólogo, psiquiatra, amigo ou conselheiro para aquele que é o mal mais sobrevalorizado pela sociedade.


P.S.: Um dia o terminado fica curado. Um dia o terminante assume as suas promessas. Se, e só se esse dia chegar, a amizade entre ex-namorados começa.
 
Andreia Moreira

 

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