domingo, 9 de setembro de 2012

Praxis

Acolher e integrar ou ser humilhado para poder humilhar? O ano é novo mas a questão mantém-se. Porém, se a dúvida permanece, uma certeza impõe-se: nenhum estudante do ensino superior fica indiferente à praxe académica. Ritual de inserção para uns, ritual fascista para outros. Existe ainda quem opte pela não tomada de posição mas isto é, por si só, uma posição.

A praxe divide. A praxe desperta reações amor-ódio. A praxe já foi um ritual de iniciação. Hoje há quem reconheça nela práticas de dominação, jogos rasteiros de poder. Hoje a praxe é tudo menos uma tradição inocente.

Aos bebés da academia

 
“Liberdade? No primeiro dia de aulas, logo à entrada da faculdade, disseram-me que eu podia ser a favor da praxe ou anti praxe. Eu percebi que estava a ser abordada por praxistas, eles estavam trajados. Quando é assim qual é a margem para ser anti praxe? (...) Queria participar na vida académica e sabia que, se dissesse não naquele momento, ia ser automaticamente excluída. Eu queria ser incluída.”
(S. , 20 anos, Porto)  
As palavras que emergem deste discurso, igual a tantos outros, levam a que se questione o carácter voluntário da participação na praxe. Talvez este seja meramente teórico pois, na prática, o que podemos observar são estratégias persuasivas, cuja eficácia contribui para o engrossar das massas de caloiros. O medo da exclusão conduz à obediência e não falta quem saiba tirar proveito desta situação.
"No primeiro dia tive vontade de chorar mas sabia que se o fizesse ia ser pior, por isso mordia o lábio para segurar as lágrimas." 
                         (F., 21 anos, Aveiro) 
São assim recebidos os “bebés da academia”. Julgava eu que a palavra receber se associava a inclusão, a igualdade, ao reconhecimento do ser humano. Para quem veste de negro, a mesma palavra liga-se a um campo semântico diferente: insultar, humilhar, desnivelar poderes. Aclama-se o respeito hierárquico numa altura em que todos já deveriam saber que não se respeita o sujeito x ou y pelo que este faz, pensa, pela posição que ocupa ou pela idade que tem. Respeita-se o ser humano. Por isso é ridículo tratar as pessoas com humilhação para que os que humilham possam ser respeitados.
Andreia Moreira

Um comentário:

  1. Não acredito que quem não faça parte da Praxe seja imediatamente incluído no saco "Anti-Praxe". Repudio essa ideia, pelo extremismo que apresenta. Tenho pena que a opinião geral seja essa, tenho pena que a primeira abordagem de muitos praxistas provoque esse tipo de sentimento juntos dos novos alunos.
    Nunca agi, pelo menos em consciência, de forma a provocar este sentimento. E tenho consciência de que sempre fui o mais correcto possível em todas as situações, porque não o ser nunca foi uma hipótese. Acredito antes de tudo no respeito e na aceitação. Recíprocos.
    Tenho pena que se mordam lábios para segurar lágrimas que nunca deveriam estar sequer equacionadas.
    Há pessoas e pessoas, em todo o lado, e, infelizmente, na maior parte dos casos, são as pessoas que moldam a Praxe, e não a Praxe a moldar as pessoas.

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