domingo, 26 de agosto de 2012

30 Segundos

Pois é, o “cinicamente-correto” está mesmo na moda.

Este fim-de-semana, ainda sem perceber muito bem como ou porquê, a “pseudo-crónica” de Margarida Rebelo Pinto, escritora que dispensa apresentações junto do público feminino, publicada no semanário SOL há quase dois anos, voltou a ser assunto e publicação em tudo o que é perfil de Facebook. A jornalista escreve sobre “As gordinhas e as outras” de uma forma fria e impiedosa, transformando aquilo que deveria ser uma crónica num “ataque” ao grupo de mulheres de formas volumosas. Tenho para mim que a autora da publicação comete três erros graves:
 
- Divisão ridícula - a forma rude como pensa o assunto leva-a a criar uma divisão entre “as gordas” e “as giras”, o que implica que todas as gordas sejam feias e todas as magras sejam giras – erro grave. Todos sabemos que existem por aí gordinhas muito giras e magras piores que camafeus.
 
- Generalização precipitada – Os comportamentos e os traços de personalidade que a escritora aponta como característicos das gordinhas não se aplicam nem a um terço dos casos – alguma sensibilidade sociológica teria ajudado a autora a perceber isso.
 
- A gota de água – os conselhos que fazem o último parágrafo são, no mínimo, ridículos.

                Sem fazer qualquer juízo de valor sobre a personalidade em causa, apetece-me comentar a polémica que se tem gerado em torno do assunto. Não me apetece encarar o papel de “advogada do diabo” mas será que aqueles que tanto comentam o assunto e atentam contra a escritora nunca pensaram como ela? Será que nunca opinaram negativamente sobre alguém por esse mesmo ter uns quilos a mais? Bem, a verdade eu não sei, mas tenho as minhas dúvidas. Não me parece que o número de pessoas que valoriza o conteúdo e menospreza a imagem seja tão elevado como se tem dado a mostrar nas últimas horas. Tenho cá para mim que grande parte dos “comentadores” está só a agir da forma esperada, da forma “cinicamente- correta”, escondendo os seus pensamentos “pecaminosos” e mantendo-se assim longe da crítica social. Certamente 99,9% deles já disse de forma convicta que “uma imagem vale mais que mil palavras”.

Não querendo contrariar o Confúcio (paz à sua alma), nem adotar uma postura de adepta da futilidade tenho a dizer uma coisa: a imagem importa, importa muito e desengane-se quem tenta acreditar ou convencer-se do contrário. É a partir dela que construímos e damos a construir as primeiras impressões, as que prevalecem durante mais tempo, e não é por gritarmos aos quatro ventos “Viva a essência!” que essa realidade cientificamente estudada e divulgada vai se alterar.

30 segundos é o tempo necessário para formarmos uma primeira impressão. Esse curto espaço de tempo tem que ser o suficiente para, mais do que impressionar, cativar o outro e semear nele o interesse pela nossa pessoa. Será que em meio minuto há tempo que chegue para mostrar as crenças, os ideais, as qualidades, os saberes, os ensinamentos...eu quase que precisava mais de 30 segundos para elencar aqui esses aspetos.

Ninguém é só imagem e mais importante do que saber admirar as linhas do corpo é saber prezar os traços da alma, mas uma coisa leva à outra. Talvez a solução passe por um duplo investimento: imagem e conteúdo. Há tempo para correr e para ler, para ir ao ginásio e ao cinema, para tonificar o corpo e a mente e estabelecer uma conexão sadia entre ambos, para não ter vergonha de nenhum dos dois. 
 
Andreia Moreira
 
 

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